Eles cresceram! E agora?

Pais- adolescentes-Psicologia- Raquel Jandozza
 

A adolescência é uma fase extremamente complexa para todo o núcleo familiar. Enquanto o adolescente se sente perdido, no limbo entre ser criança e ser adulto, os pais também perdem o seu referencial de cuidador. Hoje, eu quero trazer à luz o que é ser pai e mãe de adolescentes.

Essa jornada não é fácil. A criança cresceu e é preciso deixar a total responsabilidade de lado, para que o filho tenha espaço de começar a construir sua própria história. Desligar-se não é simples, mesmo que seja aos poucos, em doses homeopáticas. O medo de perder a mão, deixar no total abandono e descuidado sempre ronda. Viver a adolescência pela perspectiva dos pais e das mães é querer dar tudo e, ao mesmo tempo, deixar que o filho experimente a vida, porque sabemos que isso é necessário.

Para trilhar esse caminho difícil, eu proponho que você se imagine em uma corrida da São Silvestre: esta é uma jornada árdua e tortuosa e você precisa escolher quais sapatos quer calçar para seguirem juntos, nessa maratona, porque a linha de chegada existe e ela se chama fase adulta, portanto, como você quer chegar ao final desse percurso?

Se me permite dar um conselho, eu diria para que calce sapatos confortáveis. E, de tempos em tempos, troquem os sapatos para verem como o outro está se sentindo. Esse conforto, na maior parte das vezes, se ampara num diálogo carinhoso, sincero, empático. Muitas vezes, as pessoas que convivem diariamente perdem essa qualidade de empatia, de ouvir os outros. Ouça o seu filho, o que ele tem a dizer é muito importante. Tente e lute bravamente para não cair na armadilha do famoso “eu avisei que não ia dar certo” e suas variantes. Se você der um conselho e seu filho não acatar, não espere que tudo dê errado, para que você sinta o gosto amargo da vitória. Vencer, nesse caso, não é gostoso, é doído e não vale a pena, porque quando os filhos quebram a cara, quem mais sofre são os pais. Busque encontrar, na relação de vocês, pais e mães de adolescentes, esse espaço de ser porto – e não mais sair para navegar junto – para que eles possam voltar, se necessário.

Às vezes, encontrar esse lugar é muito difícil para os pais, principalmente para aqueles que não tiveram uma boa juventude, que não conseguiram curtir essa fase, então, eles projetam o seu momento conturbado nos filhos e um conflito muito intenso se estabelece. É importante que os pais estejam bem resolvidos com a própria juventude e com a vida atual, como pais, para que não se projete as frustrações nos filhos e, assim, consigam oferecer a eles o que realmente precisam: um ambiente seguro e acolhedor, para que as novas experiências, a maturidade, a independência, a autonomia e as novas descobertas sejam feitas com calma e segurança, sem mentiras, sem medos, sem represálias. É vital que os filhos possam explorar a própria vida e saibam que, se por algum motivo algo der errado, haverá um pai e uma mãe ali, observando de longe, para ser porto se necessário.

Ser pais de adolescentes é encarar uma jornada bastante desafiadora, porém, muito bonita, porque é possível ver os valores se transformando em atitudes. É o momento em que se pode ver que a semente plantada está dando frutos autônomos, independentes. Essa é uma fase que precisa ser cuidada, para que toda a família possa passar, sobreviver, curtir e se beneficiar dela com muito amor.

A adolescência é a fase em que os filhos precisam desafiar o mundo e isso é importante para forjar quem eles realmente serão. Lembre-se que o mundo deles começa em casa, então, não é à toa que será nesse ambiente que eles primeiro irão rivalizar. Eles precisam romper suas primeiras barreiras em casa. Cabe aos pais fornecer limites, mas com muito amor, para que esses limites sejam respeitados. Ao invés de criar cercas, crie portas. Se na infância os pais cercam com carinho, na adolescência é preciso abrir as portas para que eles possam ir e voltar. Ir e voltar.